
A morte do artista Jair Mendes, ocorrida no início da tarde deste sábado (16) em Manaus, provocou grande comoção no meio cultural do Amazonas. Reconhecido como um dos maiores mestres do Festival Folclórico de Parintins, ele foi responsável por transformar o espetáculo, introduzindo as grandiosas alegorias e os movimentos mecânicos que revolucionaram a apresentação dos bois Garantido e Caprichoso. Aos 82 anos, Mestre Jair deixa um legado imortal e um vazio na cultura popular amazonense.
Logo após o seu falecimento, homenagens de personalidades políticas e dos dois bumbás de Parintins começaram a ser publicadas nas redes sociais.
O Boi Garantido, onde Jair Mendes teve grande parte de sua trajetória, destacou sua genialidade e inovação, lembrando que foi ele quem introduziu as primeiras alegorias nos anos 1970 e 1980, além de ter criado o conceito do "Boi Biônico" em 1978. "Graças à sua criatividade, o Boi Garantido foi o primeiro a ter movimentos de um boi real, revolucionando a forma como o bumbá era apresentado na arena", destacou a agremiação. O boi vermelho e branco também ressaltou que Mestre Jair foi o responsável por pintar, pela primeira vez, o coração vermelho na testa do Garantido, além de ter criado a expressão "Oitava Maravilha", que se tornou uma marca do bumbá.
O Boi Caprichoso também prestou tributo ao artista, lembrando sua trajetória nos anos 1980 e 2000 e sua influência na nova geração de artistas do festival. "Mestre Jair Mendes realizou um de seus maiores sonhos ao trabalhar ao lado de seus filhos, deixando um legado imensurável para a história do Boi Caprichoso e do festival", afirmou a nota oficial do boi azul e branco. Como homenagem, o presidente Rossy Amoedo e o vice-presidente Diego Mascarenhas decretaram luto oficial de três dias e cancelaram o ensaio-show previsto para a noite deste sábado.
O governador Wilson Lima lamentou a morte do artista, destacando sua importância para a cultura amazonense. "Grande perda para a cultura do Amazonas! Lamento profundamente a morte do mestre Jair Mendes, artista que revolucionou o Festival de Parintins", afirmou o governador.
O prefeito de Parintins, Mateus Assayag, também decretou luto oficial de três dias e ressaltou a revolução artística trazida por Jair Mendes ao festival. "Revolucionário, atemporal e completo, sua trajetória foi marcada por contribuições inesquecíveis ao Boi-Bumbá, ajudando a transformar nossa festa em uma das maiores expressões culturais do Brasil", declarou.
O ex-prefeito de Parintins, Bi Garcia, lembrou a importância de Jair Mendes na profissionalização do festival e sua generosidade ao compartilhar conhecimento com novos artistas. "Com talento e criatividade, ele avançou no tempo e ajudou a transformar a brincadeira de boi-bumbá em um espetáculo admirado pelo mundo", afirmou.
O senador Omar Aziz recordou a influência de Mestre Jair para além do Festival de Parintins, destacando sua contribuição para o Carnaval de Manaus e do Brasil. "Ele foi precursor das grandes obras na arena do Bumbódromo, na Marquês de Sapucaí e no imaginário de todos aqueles que viam sua arte", disse.
O deputado federal Saullo Vianna também prestou condolências: "Jair foi um verdadeiro mestre da cultura popular, responsável por transformar o boi-bumbá em um espetáculo grandioso."
A Câmara Municipal de Parintins relembrou a homenagem feita ao artista, que dá nome à Medalha Mérito Cultural Jair Mendes, concedida a personalidades que contribuem para a cultura local. "Parintins se despede de um grande mestre, mas sua história permanece viva em nossos corações e na alma do festival que ele tanto amou", declarou o presidente da casa, Paulo César Linhares.
Além de suas inovações no Festival de Parintins, Jair Mendes foi um mestre generoso, que transmitiu seus conhecimentos para novas gerações. O ex-presidente do Boi Garantido, Fábio Cardoso, lembrou que o artista foi campeão pelos dois bois e criou a primeira alegoria do festival, a "Cobra Grande". "Parintins se despede de um mestre, cuja arte perdurará", afirmou.
Legado e revolução artística
Jair Mendes foi um divisor de águas no Festival de Parintins. Sua chegada à cena artística, nos anos 1970, trouxe mudanças profundas, modernizando o espetáculo e elevando o nível técnico das alegorias. Ele foi responsável pela criação do "Boi Biônico", que deu vida aos movimentos do boi de pano, tornando as apresentações mais dinâmicas e realistas.
Ao longo de sua trajetória, Mestre Jair transitou entre os dois bumbás, deixando sua marca tanto no Caprichoso quanto no Garantido. Sua genialidade influenciou gerações de artistas e ajudou a consolidar Parintins como um dos maiores festivais folclóricos do mundo. Sua arte extrapolou os limites da ilha tupinambarana e chegou ao Carnaval de Manaus e do Rio de Janeiro, onde também foi reconhecido por sua habilidade na cenografia e na criação de efeitos especiais.
Márcio Costa/ AmEmPauta